terça-feira, 30 de agosto de 2011

Habitações modernas berlinenses tornam-se patrimônio mundial


CULTURA | 08.07.2008


 

Seis conjuntos habitacionais de Berlim, representantes do movimento de reforma habitacional da classe trabalhadora do início do século 20, foram elevados pela Unesco a patrimônio cultural da humanidade.

 
Reunido em Québec desde a semana passada, o Comitê de Patrimônio Mundial da Unesco elevou, na segunda-feira (07/07), seis conjuntos habitacionais da modernidade berlinense ao status de patrimônio cultural da humanidade.
As habitações construídas entre 1913 e 1934 fazem parte do movimento conhecido como "conjuntos habitacionais de reforma", que marcou o nascimento da habitação social e influenciou a arquitetura, o urbanismo e a política governamental de habitação de todo o século 20.
Entre os projetistas dos conjuntos habitacionais berlinenses de Britz, Carl Legien, Schillerpark, da cidade-jardim de Falkenberg, da Siemensstadt e da assim chamada Cidade Branca, estão Hans Scharoun, Walter Gropius, Hugo Häring e principalmente Bruno Taut. Pela primeira vez, renomados arquitetos se ocuparam da habitação de trabalhadores.
Com a elevação das habitações berlinenses a patrimônio da humanidade, a Alemanha passa a possuir 33 localidades na lista da Unesco, três destas ficam em Berlim. A Ilha dos Museus e os Palácios e Parques de Potsdam e Berlim são outros dois patrimônios mundiais da capital alemã.
Pela primeira vez na história
Conjunto habitacional Carl Legien, em BerlimConjunto habitacional Carl Legien, em BerlimApós a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha apresentava um déficit habitacional de mais de 800 mil domicílios. Só em Berlim, faltavam cerca de 130 mil habitações.
Pela primeira vez na história, a Constituição da República de Weimar, em seu artigo 155, declarava a moradia como tarefa do Estado e direito do cidadão. Os grandes conjuntos habitacionais da época são resultado da mudança de política social do Estado.
O conjunto habitacional Britz ou conjunto habitacional da ferradura (Hufeisensiedlung), nome que ganhou devido à forma de sua planta, foi projetado pelo arquiteto Bruno Taut e pelo urbanista Martin Wagner entre 1925 e 1933. Localizado no bairro de Neukölln, o conjunto abriga mais de mil habitações.
Também projetado por Bruno Taut, o conjunto habitacional Carl Legien, localizado em Berlim-Pankow, foi construído entre 1928 e 1930 e homenageia um chefe sindicalista alemão que viveu entre os séculos 19 e 20. O conjunto habitacional do bairro de Pankow abriga mais de 1.100 apartamentos de pequeno e médio porte.
Medo de revolução social
Casas geminadas na cidade-jardim de FalkenbergCasas geminadas na cidade-jardim de FalkenbergSegundo a historiadora Adelheid von Saldern, a mudança da política social do Estado alemão deveu-se à expectativa após os sofrimentos da Primeira Guerra; à pressão dos movimentos dos trabalhadores que assumiram maior posição de poder no Estado e na sociedade e às exigências de reformas sociais por parte da burguesia. O medo da burguesia e da velha elite de uma revolução social também faz parte dos fatores que levaram às mudanças, acresce Von Saldern.
O conjunto habitacional Schillerpark, localizado no bairro de Wedding, foi uma das primeiras iniciativas de habitação social construídas em Berlim. Foi erigida também por Bruno Taut entre 1924 e 1930. Com cerca de 600 habitações, seu revestimento em tijolo vermelho demonstra a influência da arquitetura holandesa.
No estilo das cidades-jardim inglesas do século 19, a cidade-jardim de Falkenberg foi planejada para abrigar sete mil moradores em torno de 1,5 mil habitações. Destas, somente cerca de 130 foram construídas, com prevalência da habitação unifamiliar.
Construída entre 1912 e 1916 por Bruno Taut, a cidade-jardim de Falkenberg é o mais antigo dos conjuntos escolhidos pela Unesco em Berlim. As cores e o apelo formal histórico são prova de que o racionalismo do movimento da Nova Construção (Neues Bauen) ainda não se havia imposto.
Luz, ar e sol para todos
Edifício projetado por Hans Scharoun na SiemensstadtEdifício projetado por Hans Scharoun na SiemensstadtA construção de habitações salubres tinha como objetivo também melhorar a saúde da população, aumentando assim seu rendimento no trabalho. Luz, ar e sol para todos. Para muitos, o potencial de trabalho do povo alemão era a única força promissora que restou após a Primeira Guerra Mundial.
Esta habitação subvencionada pelo Estado se dirigia principalmente às pequenas famílias que se formaram após a Primeira Guerra. Tratava-se sobretudo de apartamentos de um ou dois quartos.
Hans Scharoun, Walter Gropius e Hugo Häring estão entre os arquitetos que trabalharam no projeto do conjunto habitacional Siemenstadt (Cidade Siemens), construído no final dos anos de 1920 no areal onde se localizava a fábrica da empresa Siemens, entre Berlim-Spandau e Berlim-Charlottenburg.
A assim chamada Cidade Branca, no bairro berlinense de Reinickendorf, complementa a lista de assentamentos modernos berlinenses elevados a patrimônio da humanidade pela Unesco no início da semana.
 
Carlos Albuquerque

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